Avançando em um conhecimento organizacional brasileiro histórico e inclusivo

Alexandre de Pádua Carrieri

Gabriel Farias Alves Correia

Nossa intenção ao escrevermos um texto que provoca a forma atual com que o ensino e a pesquisa têm sido concebidos na área de Estudos Organizacionais, não se limita a ela. Pensamos no texto “Estudos Organizacionais no Brasil: construindo acesso ou replicando exclusão?” em desenvolver pontos de partida que possam estimular o debate sobre nossos próprios papéis enquanto cientistas, professores e consultores. Afinal, nossas produções de conhecimento consideram de fato o contexto brasileiro? Quando pensamos no contexto, não estamos colocando somente a ideia de formas específicas de pensar a gestão e as peculiaridades da administração nacional. Demos um passo atrás e buscamos instigar os leitores, antes de tudo, para a reflexão da desigualdade de acessos e de oportunidades que envolve o Brasil. Como podemos ousar pensar nas organizações sem mencionarmos as formas precárias de reprodução da vida que estão ao nosso redor? Pensar em pesquisa e em ensino sem considerarmos tal contexto é entrar em um movimento circular de desenvolvermos ciências partindo de nós para alcançarmos nós mesmos. Como então nossas pesquisas chegam até a população comum, que pouco possui a oportunidade de acessar o ensino formal? Ou como elas intencionam chegar? Ou elas de fato intencionam chegar? Ou estamos reproduzindo, em uma área que se assume como crítica, o mesmo movimento daqueles que se dispõem a reproduzir o status quo de forma excludente e desigual?

O movimento que estamos estimulando é tema de diversas discussões em nosso núcleo de pesquisa, o NEOS (Núcleo de Estudos Organizacionais e Sociedade) e de eventos dos Estudos Organizacionais como CBEO (Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais) e das discussões provenientes da divisão temática de EOR da EnANPAD. Reforçamos então, a importância desses momentos de trocas com os demais cientistas da área do país para se não pudermos avançarmos de imediato, pelo menos voltarmos nossas ações para pesquisas que tratem do real cotidiano brasileiro. Reconhecemos o potencial da área de repensar as próprias práticas e adotar uma linguagem mais acessível aos estudantes da graduação e da pós-graduação, sem que isso signifique desconsiderar a importância e as contribuições dos autores clássicos. No mesmo sentido, concordamos com a diversidade de temáticas de pesquisas que buscam trabalhar com um cotidiano nos Estudos Organizacionais, mas mesmo nessas, é preciso mais aproximação com o que de fato ocorre fora da academia. Caso contrário, estaremos a reproduzir um discurso que não acessa a população, mesmo permeado de boas intenções. Por fim, refletirmos sobre o papel que temos enquanto cientistas das organizações para com o desenvolvimento social do país não significa nos colocarmos em uma posição soberba de que resolveremos os problemas do país com nossas mentes brilhantes. Diferente disso, buscamos chamar a responsabilidade dos pesquisadores da área para a diminuição dos aspectos de desigualdade a partir do olhar para a nossa própria história. Precisamos falar mais de assuntos que envolvem a história do aniquilamento que a população indígena sofreu aqui; da forma com que a população de origem africana foi tratada (e continua sendo) em nosso território; de nosso relacionamento historicamente arrogante no trato com os outros países da América do Sul; do histórico da concentração de renda absurda que temos; do banho de sangue promovido pelas forças armadas brasileiras em um período de 21 anos com o apoio da população civil e do empresariado brasileiro, dentre outras questões. Nesse sentido, estarmos atentos aos acontecimentos históricos particulares nos permitirá, em algum momento, avançar para a desconstrução das formas desumanas que são naturalizadas em nossa sociedade e que, de igual maneira, repercutem no conhecimento produzido e transmitido da gestão.

Para conferir a pensata completa, clique no link:

http://www.spell.org.br/documentos/ver/56821/estudos-organizacionais-no-brasil–construindo-acesso-ou-replicando-exclusao-/i/pt-br

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