Um intérprete do Brasil e uma perspectiva que valoriza a nossa realidade humana, social, política e econômica

Rosana Oliveira da Silva

Robson Gomes André

Sérgio Eduardo de Pinho Velho Wanderley

Ana Paula Medeiros Bauer

Nosso trabalho começou a ser desenvolvido a partir de uma provocação realizada em uma disciplina de Teoria das Organizações, para que utilizássemos pensadores brasileiros e abordagens para além das convencionais e dominantes. Dentro das várias opções de pensadores, também já reconhecidos como intérpretes do Brasil, encontrava-se Josué de Castro, um autor fortemente associado ao tema fome – algo que ainda pertence à realidade do Brasil, de forma bastante acentuada.

Josué de Castro foi um médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político e escritor que se preocupava com os problemas sociais e ambientais da realidade brasileira, tendo como foco principal o combate à fome. Por meio das suas várias formações e experiências, tais como de deputado federal, pôde fazer uma análise geopolítica e abrangente quanto ao tema, o que fez com que identificasse que a fome ia muito além de questões biológicas e estruturais de determinadas regiões. Dentre outros pontos, para o autor, a fome é uma herança da colonização, decorrente do processo catastrófico de desenvolvimento, onde poucos ficaram com muito e muitos ficaram com pouco, sugestivamente, de forma proposital, bem como que não parecia haver esforços para que ela cessasse.

Josué de Castro, assim como alguns outros pensadores da segunda metade do século XX no Brasil, foi exilado após o golpe empresarial-militar, mas nem por isso deixou de denunciar problemas sociais existentes no país. Mais ainda, percebemos que os pensamentos do autor foram decoloniais avant la lettre, começando a ser lançado em 1946 já com preocupações sobre dominação e reflexão em relação ao que vem de um contexto diferente do nosso. Entre suas preocupações destacamos: enquanto existir a desigualdade social, a paz não será possível –  nesse ponto os dualismos existentes no mundo, como abundância x miséria, luxo x pobreza, desperdício x fome, ajudam com que a paz seja cada vez mais distante; o êxodo rural aumenta a favelização, a violência e a miséria nos centros urbanos; os problemas de destruição e do meio ambiente, além de chamar a atenção para o desenvolvimento sustentável; denunciou o imperialismo norte-americano. Nesse aspecto, visitar autores que investigaram as obras e a vida de Josué de Castro foi bem rico e o ponto de partida para que pudéssemos fazer as nossas próprias análises.

Assim, notamos que o autor poderia se aproximar das perspectivas da colonialidade, uma vez que por meio de tais perspectivas depreende-se que o colonialismo deixou sequelas que vão muito além do fim da dominação política das colônias. Após a pesquisa, percebeu-se tal aproximação, o que sugere que o pensamento do autor se aproxima das ideias decoloniais muito antes de serem criadas tais perspectivas.

O Grupo de pesquisadores latino-americanos autointitulado Modernidade/Colonialidade/Decolonialidade acredita que deve ser considerado o contexto da América Latina, buscando-se uma emancipação das dominações do neocolonialismo. Isso porque, na visão desses autores existe uma hegemonia do conhecimento e a dominação do que é reproduzido na Europa e nos Estados Unidos, bem como que há uma dominação política, econômica e do próprio homem da América Latina, que fica silenciado e negligenciado.

Nesse sentido, buscamos identificar nas obras de Josué de Castro elementos que vão ao encontro das perspectivas da colonialidade, e, dessa forma, aproximar o autor da área de administração, especificamente de uma opção decolonial nos estudos organizacionais. Por mais que Josué de Castro seja reconhecido em outras áreas, como as relacionadas à saúde, não verificamos o mesmo reconhecimento no campo de administração. Embora tenha havido tentativas de aproximar o autor do campo de administração, elas podem ser consideradas incipientes. Por outro lado, também houve uma chamada para a opção decolonial recentemente, na administração/gestão. Podemos dizer que buscamos atender tal chamada!

Assim, nosso intuito com esse trabalho foi contribuir com a opção decolonial nos estudos organizacionais pois, acreditamos que podemos e devemos (re)pensar sobre nosso papel enquanto pesquisadorxs, estudiosxs e acadêmicxs. Devemos refletir se o nosso compartilhamento de conhecimento enaltece visões e modelos dominantes desenvolvidos em (e para) outras realidades sociais e que, desta maneira, não desvelam o que está excluído e encoberto em nossa própria realidade. Devemos ainda refletir se trabalhamos em conjunto com pensadorxs e perspectivas que buscam enaltecer saberes que estão alinhados com nossa realidade e preocupados com a justiça e mudanças sociais que proporcionem cada vez mais a inclusão do maior número de seres em uma vida digna.

A partir do nosso trabalho, fazemos algumas sugestões – e talvez provocações, como as que nos foram feitas no início da pesquisa –, tais como: que administradorxs pensem as organizações da mesma maneira que Josué de Castro pensava o Brasil, de seu contexto e para o seu contexto; e que pesquisadorxs e acadêmicxs busquem utilizar o conhecimento de pensadorxs do Brasil para analisar questões sociais, políticas e econômicas.

Para conferir o artigo completo, acesse o link:

http://www.spell.org.br/documentos/ver/56653/josue-de-castro-e-a-colonialidade-do-poder–do-ser-e-do-saber–uma-contribuicao-para-a-opcao-decolonial-em-estudos-organizacionais-/i/pt-br

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