Por Ariane Taborda Ribas, Mariel Mayer Pilarski, Renata Santos e Silmara Dellaqua

Nesta resenha serão abordados os métodos de (1) pesquisa documental, (2) revisão integrativa e (3) meta-análise, com base nos textos “Historical Analysis of Company Documents” de Michael Rowlinson[i]; “Vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa” de Peter Loizos[ii]; “Integrative review: what is it? How to do it?” de Marcela Tavares de Souza, Michelly Dias da Silva e Rachel de Carvalho[iii] e; “Meta-análise: seu significado para a pesquisa qualitativa” de Maria Aparecida Viggiani Bicudo[iv]. Também foram utilizados dois textos complementares.
A pesquisa documental (1) “[…] apresenta algumas vantagens por ser “fonte rica e estável de dados”, não implica altos custos, não exige contato com os sujeitos da pesquisa e possibilita uma leitura aprofundada das fontes” (GIL, 2002, P. 62-3 apud PIANA, 2009, p. 122[v]).
Carneiro e Barros (2017), mencionam que o trabalho com o documento histórico como fonte de coleta de dados remete a transformações recentes. Antes, a busca de documentos históricos não tinha o olhar atento de um pesquisador, o que mudou á partir do que Le Goff (2003) intitula de “revolução documental”[vi].
A pesquisa documental é raramente adotada como uma estratégia de pesquisa nos estudos organizacionais[vii]. Ela“[…] é equiparada a uma análise profunda e detalhada de uma pequena amostra de tais textos publicamente disponíveis e com isso o etnógrafo organizacional enfrenta escolhas sobre o que registrar no campo, o historiador precisa decidir quais documentos consultar e como tomar notas deles”[viii]. Citando Tosh (1991) e Coleman, (1987), Rowlinson (2004) afirma que o diálogo entre pesquisadores qualitativos e historiadores ainda é limitado. “Uma relação de poder está presente em quem arquiva e quem escreve a história” (COOK; SCHWARTZ, 2002; SCHWARTZ; COOK, 2002 apud CARNEIRO; BARROS, 2017, p. 15).
Para Rowlinson (2004) , existem seis equívocos do pesquisador que escolhe a pesquisa documental como método para analisar organizações: (i) a história consta em documentos e podem confirmar ou refutar teorias organizacionais; (ii) a análise histórica da documentação da empresa não interfere na dinâmica de uma organização; (iii) documentos da empresa já foram coletados e organizados antes que um pesquisador possa analisá-los; (iv) a pesquisa em arquivos não é um método apropriado de pesquisa empírica organizacional, já que os dados históricos são simplesmente coletados; (v) a validade e a confiabilidade da documentação de organizações devem ser questionadas mais do que outras fontes, já que servem para legitimar a organização; (vi) a história é sinônimo da memória organizacional[ix].
A análise documental escrita, segue um ritual de constantes perguntas por parte do pesquisador para situar o documento trabalhado na época na qual foi produzido, visto que o conhecimento histórico se dá pelo conjunto de técnicas que permeiam uma análise documental, e muitas vezes implicam em vários documentos, alguns primordiais e outros complementares[x].
Sem uma pesquisa rigorosa nos documentos, é fácil aceitar as declarações dos informantes. Nesse sentido, a pesquisa documental fornece um excelente meio para testar a precisão das informações coletadas.
O trabalho com documentos compreende a seleção, classificação e o entendimento dos documentos coletados, além de ser importante para a contextualização de determinado documento[xi]. Nos estudos organizacionais é comum a confusão entre história e memória, sendo assim, Rowlinson (2004) afirma que “memória organizacional não é um repositório de eventos sobre eventos passados”. Através da pesquisa documental e sua interpretação o pesquisador pode contradizer o passado que consta na memória dos membros da organização[xii].
Conclui-se que “[…] nos estudos organizacionais, a periodização tende a estar subordinada a generalizações teóricas e macro históricas. Na periodização do histórico de negócios é um problema perene, pois os dados são ordenados cronologicamente, o que significa que pontos de virada e desfechos tendem a ser identificados a partir dos dados em si, em vez de impostos a partir de posturas teóricas anteriores” [xiii].
Ainda no que versa sobre a pesquisa documental Loizos, (2002[xiv]) traz considerações sobre as possibilidades de uso de fotos e vídeos nas pesquisas qualitativas, explicando que tendo ou não som, as fotos e imagens registram eventos reais e temporais, não precisando de palavras para explicar certas coisas. Porém, além das vantagens, existem as desvantagens, entre elas : a manipulação dos dados, os dados são coletados de maneira bidimensional, isto é, não se estabelece a realizadade[xv].
Em relação aos artigos de revisão, eles são uma forma de pesquisa que utiliza como fontes de informações resultados de pesquisas de outros autores e tem como finalidade fundamentar teoricamente um determinado tema. Dentre os tipos de revisão de literatura podemos distinguir duas categorias: revisão narrativa e revisão bibliográfica sistemática, sendo esta última subdividida em: meta-análise, revisão sistemática, revisão qualitativa e revisão integrativa (ROTHER, 2007[xvi]).
A revisão integrativa (2) é um método de pesquisa que permite a síntese de múltiplos estudos publicado, permitindo conclusões gerais. Tem como finalidade sintetizar resultados de pesquisa de maneira sistemática e ordenada permitindo ao pesquisador aproximar-se da problemática que deseja apreciar. É a mais ampla abordagem referente às revisões ao combinar dados da literatura teórica e empírica para gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos, teorias ou problemas relevantes, de forma que o pesquisador possa conhecer a evolução do tema ao longo do tempo, e com isso visualizar possíveis oportunidades de pesquisa nos estudos organizacionais[xvii].
O processo de elaboração da revisão integrativa é rígido e é composto por seis etapas distintas: i) Pergunta norteadora: identificação do tema e seleção da hipótese ou questão de pesquisa para a elaboração da revisão integrativa; ii) Busca ou amostragem na literatura: estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos; iii) Coleta de dados: definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados e categorização dos estudos; iv) Análise crítica dos estudos incluídos; v) Discussão dos resultados; vi). Apresentação da revisão/síntese do conhecimento[xviii].
A revisão integrativa da literatura auxilia agregar os resultados[xix], função chave para o terceiro método abordado, a meta-análise (3). Meta-análise é uma técnica estatística desenvolvida para integrar resultados e consiste em uma investigação pautada em comparações de pesquisas efetuadas em relação a um tema proposto para o aprofundamento[xx].
O objetivo é desenvolver um conhecimento teórico, por meio da combinação de resultados desses estudos. Embasado na análise de várias pesquisas independentes a fim de oferecer sustentação para trabalhos futuros[xxi]. De acordo com Luiz (2002[xxii]), por meio da união de resultados e pela aplicação de algumas técnicas estatísticas, a meta análise consegue extrair novas informações de dados preexistentes.
Luiz (2002) relata que os dados podem advir de resultados em trabalhos publicados ou de dados brutos. No primeiro caso, a vantagem é que não há necessidade de autorização dos autores para uso. A desvantagem é que os dados são apresentados já analisados, o que limita as técnicas que poderão ser utilizadas na meta-análise[xxiii]. No segundo caso, a obtenção dos dados brutos possibilita a utilização de várias análises estatísticas, de acordo com o autor.. Para a efetivação da meta-análise é necessário ter cuidado e rigor no processo de construção da teoria; buscar explicar a teoria mediante uma análise lateral e dedutiva; e se atentar para o desenvolvimento teórico dos resultados analisados de um tema que é expressivamente descritivo e compreensivo[xxiv].
Para concluir, Luiz (2002) aponta para a necessidade de bom armazenamento de dados pelas organizações, pois são importantes matérias primais para pesquisas no futuro.
[i] ROWLINSON, Michael. Historical Analysis of Company Documents. In: CASSEL, Catherine; SYMON, Gillian. Essential Guide to Qualitative Methods in Organizational Research. SAGE Publications, 2004.
[ii] LOIZOS, Peter. Vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa. In: BAUER, M.W.; GASKELL, G Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som – um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002
[iii] SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R.. Integrative review: what is it? How to do it?. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 8, n. 1, 2010.
[iv] BICUDO, M. A. V. Meta-análise: seu significado para a pesquisa qualitativa. REVEMAT. Florianópolis (SC), v. 9, Ed. Temática (junho), 2014
[v] PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009
[vi] CARNEIRO, A.; BARROS, A. Uso de documentos para narrar a história de organizações: reflexões e experiências. Revista de Contabilidade e Organizações, v. 11, n. 30, p. 14-23, 29 set. 2017
[vii] Idem item i.
[viii] Idem item i, 304.
[ix] Idem item i.
[x] Idem item v, p. 17.
[xi] Idem item v.
[xii] Idem item i.
[xiii] Idem item i, p. 309-10.
[xiv] Idem item ii.
[xv] Idem item ii.
[xvi] BOTELHO, L.; CUNHA, C.; MACEDO, M. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e Sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2 dez. 2011.
[xvii] Idem iem xv.
[xviii] Idem item iii.
[xix] Idem item iv.
[xx] Idem item iv.
[xxi] Idem item iv.
[xxii] LUIZ, A. J. B. Meta-análise: definição, aplicações e sinergia com dados espaciais. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.19, n. 3, 2002.
[xxiii] Idem item xxi.
[xxiv] Idem item iv.
Ariane Taborda Ribas, Renata Santos e Silmara Dellaqua são mestrandas em Administração pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Mariel Mayer Pilarski é Advogada, Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Unicuritiba e em Gestão de Projetos, Políticas e Programas Sociais pela PUC/PR. Mestranda em Planejamento e Governança Pública pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
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