
Andrea Oltramari¹
Agradecendo ao convite do NUEVO para escrever sobre os desafios da pesquisa nos próximos tempos, decidi por compartilhar um pouco da minha experiência enquanto pesquisadora nesse estranho ano de 2020, ano que também tiro minha licença para pós-doutoramento e Visiting Fellow de duas expoentes Universidades no velho mundo: Universidade de Lisboa e Universidade de Birmingham [i].
A minha experiência, além de ter sido solitária, tal como, por vezes, é o ato de pesquisar, foi também meu momento de ter que encarar sozinha a pandemia do novo corona vírus, Covid-19. Isolada na Inglaterra, onde inicialmente iria realizar minha pesquisa de “campo” realmente a campo (pretendia com meu Ford Fiesta modelo da segunda guerra mundial, rs) circular pela UK a busca de brasileiras que lá morassem e que se dispusessem partilhar comigo seus projetos migratórios, já que também havia aprendido a dirigir na mão esquerda inglesa e estava muito orgulhosa principalmente dessa nova habilidade. No entanto, por meados de 18 de março o governo inglês, tardiamente e com altas taxas de infectados, instituiu o lockdown. Assim como em diversas partes do mundo, não podíamos sair de casa, a não ser para ir ao supermercado, farmácia e tudo que dissesse respeito a subsistência. Podíamos também praticar uma hora de exercício físico, desde que não saíssemos do bairro que morávamos. Havia policiais por toda a parte. O inglês, que também exercita uma certa distância física no cotidiano, agora não via muita dificuldade em sempre estar a dois metros de distância entre pessoas.
Assim, minha primeira proposta de coleta de dados foi totalmente frustrada. Mas, não poderia desistir assim tão fácil desse momento que para mim sempre foi desejado. Pensei em outras hipóteses, nunca sozinha – fazia Skype de supervisão com meu querido parceiro e supervisor de pesquisa, a quem admiro e respeito demais- professor João Peixoto. Começamos a traçar uma nova estratégia, como a pesquisa quantitativa (survey) e algumas ligações por whatsapp. Não é preciso dizer que a cada ligação do whatsapp saia absolutamente esgotada. As tecnologias, para mim, são fonte de esgotamento, em especial para uma pesquisadora que como eu que há 25 anos é deveras analógica (lembrei-me das aulas delícias da professora Neusa Cavedon – quem a conhece, sabe do que falo).
Ao chegar em Lisboa (onde estou agora nesse momento), como o lockdown está mais flexibilizado, alguns encontros presenciais ainda são possíveis, com o consentimento da entrevistada, é claro. Tal fato tem me deixado mais animada.
Dito isso, quero também compartilhar as dores e delícias de ser pesquisadora. Como sabem, ser mulher por si só já se apresenta com barreiras e temos que fazer um esforço gigantesco para transpassar. Ser mulher brasileira em terras estrangeiras complica. O exercício para a entrada em campo é diário e com ele as percepções cotidianas que a linha que separa a opressão e a desvalorização do nosso labor é tênue.
Entretanto, quero dizer e confortar-vos que o acolhimento e a força para o enfrentamento para a pesquisa nesses tempos vindouros se darão sobretudo na amizade e no amparo que as redes de afeto nos possibilitam. Assim foi no Reino Unido e assim é aqui em Portugal com a rede de amigos e amigas portugueses e portuguesas, brasileiros e brasileiras que constituí. Apesar das narrativas visuais que mostro a seguir, a qual chamo de “solidão na pandemia”, a que se possa ter desejo de continuar pesquisando e sobretudo inovar me termos de coleta de dados, em especial a nossa área, em que a fala do trabalhador é essencial para nosso labor e reflexão. A seguir, mostro um pouco do meu arquivo pessoal de fofos, tiradas entre maio e setembro de 2020.
Foto 1 – London Euston.

Foto 2 – Victoria Line, London Underground

Foto 3 – Trem em Birmingham.

Foto 4 e 5 – London Underground, Picadilly Line.


Fotos 6, 7, 8 – Heathrow Airport.



Fotos 9 e 10 – Espanha, Galícia, isolamento em praia.


[i] Também quero agradecer a parceria terna da colega professora Maria José Tonelli. Para pesquisarmos, temos que construir pontes ternas.
¹Doutora em Administração, com ênfase em Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EA/PPGA/UFRGS). Pós-Doutora pela EAESP/FGV. Visiting Fellow no SOCIUS/ISEG da Universidade de Lisboa e do Departamento de Políticas Públicas/IRiS da Universidade de Birmingham/UK. É professor Adjunto da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Como citar:
OLTRAMARI, Andrea. Os desafios das pesquisas sobre o trabalho na atualidade. In: Nuevo Blog, 19 set. 2020. Disponível em: https://nuevoblog.com/2020/09/19/os-desafios-das-pesquisas-sobre-o-trabalho-na-atualidade/ . Acesso em: ??
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