O Ano que Nunca Acabou

Vinícius Marino¹

Para quem ainda não sabe, recebi o diagnóstico de COVID-19 recentemente. Vivenciar os malefícios desta doença mesmo tendo cumprido a quarentena religiosamente e ter até perdido pessoas no decorrer deste período tão denso de nossa história foram fatos que me trouxeram a necessidade de externar meu parecer acerca do cenário atual.

Jamais ignorei as limitações dos que não têm a opção de se isolar. E sei que estes são muitos. Por isso, meu olhar será lançado não sobre aqueles que lutam contra a fome, mas sobre os que enfrentam o temível tédio.

Se para Pierre Bourdieu o “habitus” varia de acordo com o contexto social no qual o indivíduo está inserido, imagine o quão intrigado o sociólogo ficaria ao descobrir que, em meio à maior crise sanitário-econômica em mais de cem anos, tanto os moradores de comunidades carentes não foram capazes de abandonar temporariamente os bailes funk, as rodas de pagode e os torneios varzeanos de futebol, quanto os habitantes de áreas nobres se mostraram dependentes das pool parties, raves e das inúmeras viagens (Na companhia de amigos e mais amigos) para suas casas em todos as “rifainas”, “capitólios” e “rivieras” existentes!

A pandemia reafirmou as palavras de Émile Durkheim: “Quando os costumes são suficientes, as leis são desnecessárias. Quando os costumes são insuficientes, é impossível fazer respeitar as leis.” E assim, as mais de 150 mil mortes oficiais de brasileiros perdem seu valor alarmante…

Portanto, vão! Vão à praia, ao shopping, aos infindáveis churrascos… Vão aonde a vontade lhes guiar! E depois culpem! Culpem (Com razão) o presidente! Culpem a mídia, o Papa, a China, Deus, o próprio vírus, a natureza, os comunistas, os fascistas, os médicos…

Quando enfim chegar a milagrosa vacina – Um bem global cuja origem pouco importa – as máscaras cairão e o povo perceberá, sem admitir, que a verdadeira causa de tamanha tragédia fora subnotificada: No Brasil de 2020, o que mais matou foi o hedonismo.

¹Estudante. Amante de Literatura. Admirador da Arte.

Como citar:
MARINO, Vinícius. O Ano que Nunca Acabou In: Nuevo Blog, 09 out. 2020. Disponível em: https://nuevoblog.com/2020/10/09/o-ano-que-nunca-acabou/. Acesso em: ??

Um comentário em “O Ano que Nunca Acabou

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  1. Vinicius adorei seu texto, só fiquei triste de você ter sofrido efeitos covid19 e desejo que já esteja bem. Intelectualmente sei que é muito mais que são!!! Abraço!

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