
Laira Gonçalves Adversi 1
Rene Eugenio Seifert 2
O cenário de problemas e contradições prejudiciais às dimensões humanas e ambientais, nos instigou a investigar uma organização não convencional aqui denominada Organização Comunitária (OC). A OC é uma iniciativa de vida e de produção comunitária, cujo modo de organizar evidencia um desalinhamento à lógica dominante de organização resultante do modo como a sociedade se encontra organizada.
Os resultados do nosso estudo indicam que a OC orienta suas ações a partir de uma narrativa judaico-cristã que diz que, durante a criação da Terra, foi estabelecido ao ser humano o preceito de cuidar de seus semelhantes e da natureza, respeitando seus limites. Porém, de acordo com essa narrativa, o ser humano ultrapassou esses limites por meio da exploração das pessoas e do meio ambiente natural, ocasionando desequilíbrio e caos na Terra. Portanto, para que o equilíbrio seja restabelecido é necessário mudar a forma de pensar e de fazer as coisas.
A OC demonstra se orientar pelo estabelecimento de limites ao modo de organizar convencional, por meio da sacralização da vida e da renúncia aos valores e pressupostos dominantes. Assim, sacralizar significa se orientar pelo princípio de que a natureza e os seres humanos são sagrados. Isso para que as pessoas não sejam exploradas e os rios não sejam poluídos. Outrossim, a renúncia envolve, por exemplo, abrir mão da busca pelo crescimento econômico a qualquer custo, para que os seres humanos não sejam mais tratados como recursos, como ocorre das relações de emprego e escravidão.
Nosso estudo indica que, no caso investigado, é o estabelecimento de limites à orientação econômica para o crescimento e à orientação técnica para a máxima eficiência que fertiliza o pensar e o viver alternativo dessa organização, orientado para a suficiência e a convivencialidade. Tais limites são fundamentados em narrativa de renúncia e de sacralização da vida material.
Assim, o estabelecimento de limites ao crescimento econômico na OC fertiliza um organizar orientado para a suficiência, tipificado pela vivência qualitativa do momento presente, com valorização da simplicidade e do bem viver, elaborado com base em motivações afetivas e na renúncia ao modo dominante organizacional do trabalho direcionado à obtenção e ao acúmulo de bens materiais.
Já o estabelecimento de limites à eficiência técnica nos permite observar um organizar orientado para convivencialidade, em que prevalecem a valorização das relações afetivas em detrimento único dos resultados baseados em desempenho, a condução da organização por meio de procedimentos intuitivos e contingenciais em oposição aos planejamentos formais, o desenvolvimento de habilidades emancipatórias para alcance de autonomia frente ao sistema industrial e, por último, a aprendizagem por meio de experimentações livres.
A principal contribuição deste estudo revela-se na emergência da categoria “limites” como principal elo analítico para a tentativa de diferenciar organizações convencionais e alternativas. Assim, consideramos relevante incluir a discussão sobre o papel dos limites ao crescimento econômico e à eficiência técnica, tendo em vista o avanço das investigações sobre organizações alternativas.
Clique no link para ter acesso ao artigo publicado pelos autores: https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/view/85311
¹Mestre em Administração pela Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR)
²Doutor em Administração. Professor do Programa de Mestrado em Administração e do Departamento de Gestão e Economia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Como citar:
ADVERSI, Laira Gonçalves; SEIFERT, Rene Eugenio. Limites ao crescimento econômico e à eficiência técnica: o papel da sacralização e da renúncia. In: Nuevo Blog, 27 jun. 2022. Disponível em: https://nuevoblog.com/2022/06/27/limites-ao-crescimento-economico-e-a-eficiencia-tecnica-o-papel-da-sacralizacao-e-da-renuncia/. Acesso em: ??
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